Referências da minha região – Joaquim Marques Silvério

Foto por Faustino Ângelo

Tal como referi no apontamento anterior, trago-vos hoje o nome do meu avô materno, Joaquim Marques Silvério.
Depois da infância e juventude sem história, conseguiu ascender, partindo do nada, à tríade de industriais assinalados pelo jornal O Portomosense (de 16-10-1986) como pioneiros da indústria cerâmica do barro vermelho, no concelho vizinho: João Lopes Coelho da Silva, Joaquim Augusto da Silva Marques e Joaquim Marques Silvério.
Nascido a 29 de Dezembro de 1895, em Cavadas, frequentou por pouco tempo a escola primária, porque os filhos, naquela época, eram necessários para ajudar os pais nos pequenos trabalhos agrícolas. Aprendeu muito cedo a cavar vinha e a serrar lenha.
Valeu-lhe o serviço militar, durante a 1.ª Guerra Mundial, para se aperfeiçoar na leitura e escrita, lendo e escrevendo as cartas aos companheiros que, maioritariamente, não tinham frequentado a escola. As solicitações para ler e dar resposta às cartas eram tais, que os superiores o presumiram de letrado. Foi incumbido de numerar as roupas e da distribuição de material entre os seus pares.
Cumprido o serviço militar, casou e foi trabalhar a soldo do sogro, de enxada na mão. Aos 24 anos, como já tinha experiência de serrar lenha, arriscou trabalhar por conta própria. Entrou no negócio de lenhas e madeiras. O Asilo de Alcobaça passou a ser o seu principal cliente. Em pouco tempo, evoluiu para a serração de tábuas, montadas em cavaletes. Contratou um trabalhador para o ajudar, na difícil tarefa de serrar tábuas com uma serra manual impulsionada por dois homens (um de cada lado dos cavaletes). Adquiriu uma junta de bois para a tração dos toros e passou a contar com um boieiro, que também ajudava na serração. De dois empregados, passou a quatro, melhorando a qualidade da serração, sem descurar o negócio das lenhas.
Já tinha o negócio instalado como serrador, quando apostou na cerâmica, graças à experiência de seu pai. Com um burro ou um boi a amassar o barro, comandados pelo boieiro, uma prensa a moldar tijolos e um forneiro a cozê-los… nasciam os seus primeiros produtos industriais, idênticos aos que proliferavam pelas pequenas fábricas de cerâmica, entre Alcobaça e Porto de Mós. Joaquim Marques Silvério, que era visionário e jovem, decidiu inovar em relação à concorrência: comprou uma “camioneta” para substituir as juntas de bois. Foi – ele próprio – buscá-la a Lisboa, numa primeira viagem, longa e penosa, pois algumas estradas ainda não tinham asfalto.
Desta forma, começou a apostar nas vendas de madeira, telha e tijolo, também para Lisboa. Assim, aumentava o efetivo dos seus empregados, chegando a algumas dezenas em meados do século XX. Adquiriu pinhais para alimentar a serração e comprou terrenos para fazer “barreiras” e explorar os melhores filões de argila. Modernizou as indústrias, que estavam no topo, quando faleceu em junho de 1970.
Pai de oito filhos, responsabilizou cada um deles – 4 rapazes e 4 raparigas – pelos diversos setores: a serração, o escritório, a cerâmica, a agricultura, as lides domésticas, os lagares e a quinta da Boavista.
Apaixonado pela família, privilegiava os encontros de Natal, Páscoa e aniversários. Essas memórias ainda hoje são tema de conversa entre os netos, que tiveram o privilégio e o orgulho de o ter como avô.

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