Um corpo que ressente

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

Continuamos diariamente com notícias relativas à situação trágica dos abusos sexuais de menores no seio da Igreja. Como nos diz São Paulo, a comunidade eclesial é um Corpo composto de muitos membros. Quando um membro sofre, todos se ressentem. Nestes dias, comungamos de modo especial a dor profunda de numerosas vítimas. Sem dúvida que não há indemnização, nem qualquer outra coisa que altere o que passaram. Assim, porque somos um Corpo, numa atitude de verdadeira empatia, sentimos a angústia delas como nossas. Delas… e de tantos outros.
Há uns dias atrás, partilharam comigo o desabafo de um colega meu, padre. Contou que ia a caminhar na rua da sua paróquia e que alguém que cruzara o caminho dele lhe sussurrou uma expressão cortante: “Pedófilo!”. Atónito, ele diz ter baixado a cabeça e seguido o seu caminho. Trata-se de um sacerdote na casa dos setenta anos. Conheço um pouco da sua história e sei que ele gastou a sua vida para que muitos encontrassem a Vida. Entregou-se a Cristo num serviço desinteressado a todos. Nunca se disse que tivesse praticado esse ou qualquer outro crime, nem houve alguma vez qualquer tipo de suspeita de tal ordem. Então, porquê uma provocação assim? A resposta é simples: porque é padre… e caímos no erro de generalizar o que não é generalizável. Assim, tenho presente não só este, mas tantos outros meus irmãos, padres, que serão alvo de injustiças e ingratidões como esta. Gente simples, trabalhadora, altruísta. Gente santa à maneira de Jesus. Gente culpabilizada pelo mal que alguns praticaram. É sabido que grande parte dos casos de abusos sexuais de menores sucede no seio familiar e é racional e comummente aceite que nem todos os pais, mães, avós ou tios são pedófilos. Então, porque o fazemos nesta situação?
As tradições quaresmais colocam no centro da nossa meditação a Paixão e Morte de Jesus. O seu corpo ferido lembra-nos as chagas de todos. Das vítimas, dos agressores, da Igreja, face à dureza da verdade. Tenhamos assim a esperança num tempo novo. A ressurreição é certa.

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

Uma resposta

  1. Sem duvida Pe Tiago, o que alguns criminosos fizeram não generalizam a totalidade
    Sou Católica de berço, trabalho na minha comunidade à mais de 40anos ,tenho confissão frequente , trabalho e trabalhei com muitos sacerdotes de quem tenho recebido grande Espiritualidade e me têm ajudado neste caminho de encontro com Deus
    Amo a minha Igreja pecadora mas bela , e de quem muito tenho recebido

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