Vinho contribui para o pão de um milhão de portugueses

Na agricultura alcobacense de há sessenta e tal anos, não havia semana-inglesa, muito menos americana, que seria considerada uma modernice, sem viabilidade. Só não se trabalhava ao Domingo, pois de manhã havia que ir à missa. Como poderia haver castigo depois da morte? Liberdade//Tu tens a vontadinha//Que não eu.//Quero a minha//E não a que me prometes//Lá no céu, como dizia o velho Edmundo Bettencourt.
Sem pretender entrar em terrenos complicados, sou de opinião que, neste século XXI, Inferno e Paraíso são metáforas, pois não creio que Deus na sua infinita sabedoria, tenha criado um Universo em que coexistem domínios terrenos e ultra-terrenos. Não é possível compatibilizar Fé com um Deus que anula o Homem. Também discordamos que seja entendido, que a vida é uma peregrinação rumo a Deus, como entendia Dante na Idade Média, se bem o interpreto.
O Domingo era motivo para tomar banho, vestir roupa lavada, ver e ser visto, e os rapazes ou mesmo os homens feitos, lançarem olhares ao mulherio.
Da parte de tarde, os homens voltavam à taberna, onde é que haveria de ser? para entre uns copos de branco ou tinto, porem a conversa em dia, jogar o chinquilho ou a sueca. Se o vinho atrapalhava o negócio deixava-se este de lado, como sentenciava doutamente o Domingos “Felizardo”. Talvez isso, lhe tivesse criado a fama de ninguém ter mais sede que ele. Quando apanhava uma carraspana eram três dias a descansar.
As mulheres aproveitavam a tarde para tratar da lide da casa. Bailes, quase só pelo Carnaval, Santos Populares ou Santa Marta, estando as moças muito vigiadas pelas mães. Se se pensar bem, os sentimentos que hoje em dia tanto atrapalham a felicidade, também existiam, mas o Regime encarregava-se de paternalmente conferir aos acontecimentos as devidas proporções, como se não houvesse capacidade para digerir momentos difíceis. Sem dúvida que se vivia com perguntas para as quais não era dada resposta. Como muitos portugueses, na sua pouca instrução Machado não sabia exprimir, por palavras, todo um turbilhão de “sentires”, e se o conseguisse ou soubesse fazer, era mais que normal que o Poder não lhe desse grande relevância ou dedicasse mais que um vago olhar distraído.
Beber vinho é contribuir para o pão de um milhão de portugueses era o slogan integrado na campanha ao consumo de vinho, patrocinada pela J.N.V., pelo Grémio dos Armazenistas de Vinho e com o apoio do governo. Essa campanha continha, todavia, contradições, nunca resolvidas, pois havia um conflito entre a opção pão e vinho.
Nas vindimas, num ambiente quase festivo, trabalhava toda a gente, as mulheres na apanha das uvas, os homens a carregar os cestos para os carros de bois, com eixos das rodas e chumaceiras de madeira, até às tinas das adegas. Até há alguns anos, a Adiafa era a festa popular do fim das vindimas ou das colheitas, uma época em que trabalhadores e patrões confraternizavam, após uma campanha. Hoje em dia, a Adiafa é uma mera recordação ou não mais que uma promoção turística de uma região, uma manifestação para ajudar a manter a memória da cultura e os antigos costumes que teimam em desistir face à mudança dos valores sociais.

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