Viver mal e mal viver em Alcobaça

José Alberto Vasco
Escritor

Como praticamente toda a minha geração, iniciei-me nos prazeres da chamada 7ª arte vendo os filmes da Marisol e do Joselito, tendo atingido a maioridade cinematográfica no dia em finalmente assisti a um filme para maiores de 12 anos, tendo-me logo calhado em sorte um filme de Stanley Kubrick, o histórico Spartacus. Mal calculava eu então que esse nome maior da História do Cinema se tornaria mais tarde um dos meus realizadores favoritos, tendo-me maravilhado com seus filmes como 2001- Odisseia no Espaço, Laranja Mecânica ou De Olhos Bem Fechados, a que também tive a felicidade de assistir no Cineteatro de Alcobaça, em cuja programação normal conheci muitos outros dos mais notáveis realizadores de todos os tempos, bastando-me citar Serguei Eisenstein, Orson Welles, Federico Fellini, Woody Allen ou David Lynch, numa lista onde cabem muitos mais.
Eram tempos em que a gestão do nosso cineteatro era privada, mas em que a sua programação era de interesse público, com uma opção clara pela variedade e pela qualidade, que incluía até os míticos filmes de terror, exibidos aos sábados, a partir da meia-noite.
Esse enquadramento alterou-se profundamente quando há alguns anos a edilidade alcobacense assumiu a propriedade e a gestão comercial do Cineteatro de Alcobaça, optando por muito menos dias de exibição e por uma programação mainstream que tem assumido a evidente contrariedade de, não sendo uma sala de estreia, exibir maioritariamente filmes que já rodaram em salas de cidades limítrofes, por vezes há mais de um mês, o que afasta imensos cinéfilos locais, que encontramos vulgarmente em salas doutras cidades.
Salvo raras escolhas na sua programação habitual as honras cinematográficas da casa foram nos últimos anos salvas pelos saudosos ciclos programados por David Mariano ou pela também pertinente e conhecedora seleção de Alberto Guerreiro nas sessões integradas no Festival Books & Movies. E esse pouco volta a ser muito já durante este mês, com o cartaz do festival literário alcobacense a incluir a exibição dos dois excelentíssimos filmes de João Canijo este ano estreados: Viver Mal e Mal Viver. Será aconselhável que os autênticos cinéfilos locais acorram a esta chamada, ajudando a provar que o cinema de autor merece melhor atenção em Alcobaça.

José Alberto Vasco
Escritor

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