“Vou sentir muito a falta das pessoas boas que vivem por aqui e, se pudesse, levá-las-ia comigo”

Quando chegou, convidou Alcobaça “a sonhar o sonho de Deus”. Que balanço faz destes cinco anos?
O sonho de Deus é que vivamos uns com os outros e uns para os outros, no amor. Se a nossa vida não tem este objetivo, ou seja, cuidarmos uns dos outros, procurando a felicidade e a felicidade dos outros, então serve para quê? Sabemos que o objetivo só será atingido no Céu. Mas avançamos para ele, dia após dia. Levar todos a encantarem-se com esta aventura foi a minha maior motivação. O balanço do que aconteceu nestes anos, deixo para Deus. Só Ele sabe o que, verdadeiramente, aconteceu no coração de cada um de nós.

O que sente que leva e o que deixa?
Todos os instantes, dos mais visíveis aos mais discretos, de um simples sorriso a uma grande celebração, foram intensos, vivificantes e únicos. Deus esteve em todos eles. Levo no coração o coração de muitos. E uma profunda gratidão a Deus por me ter conduzido até estas terras e ter-me cruzado com a vida de tantos. Se não se importarem, vou deixar um pedaço do meu coração plantado aqui. Desculpem ser só parte dele, mas tenho que levar o restante para outro lado.

Mudou a imagem d’O ALCOA, contribuiu para se erigir na cidade uma estátua de S. Bernardo, foi o impulsionador da NOICA, da NOA, da Bíblia Viva. Estes projetos terão continuidade? O que ficou por fazer?
Parece-me uma atitude inteligente e sábia continuar o que de bom foi realizado, não por mim, mas por nós. Ninguém faz nada sozinho (muitos pensam que sim!). O que ficou por fazer é tudo o resto. Cabe aos que ficam estarem atentos ao que falta. E avançar, sem medo.

O que mais gosta de Alcobaça e das terras à sua volta?
O que mais gosto é das muitas pessoas boas que vivem por aqui. Vou sentir muito a falta delas. Se pudesse – e elas quisessem, claro – levá-las-ia todas comigo.

E o que deveria mudar para Alcobaça voltar a ser um centro de irradiação espiritual e cultural?
Saber-se-á com maior limpidez o que deve mudar em Alcobaça, quando a maioria dos habitantes de Alcobaça, mais do que morarem em Alcobaça, deixarem Alcobaça morar neles. Quando se ama, sabe-se o que fazer. E faz-se. O Mosteiro e o «cheiro» dos cistercienses, presentes nestas terras, são uma «provocação» a todos, crentes ou não. Não é possível voltar ao passado e ainda bem. Mas pode e deve-se acolher dos nossos antepassados e da sua história tudo o que foi grande. E estar atentos aos sinais que vão surgindo, aqui e ali, e nos convocam para novas andanças. Tenho a certeza que os que conhecem e amam verdadeiramente a luminosidade das Terras de Cister, colocando de lado preconceitos e fundamentalismos, vão erguer pontos de luz que irradiem novas cores de cultura e espiritualidade.

O que pensa que poderia ser melhorado ou implantado no Mosteiro de Alcobaça?
Não tenho ideias claras sobre o que se poderá realizar. Ia concentrar-me, este ano, nestas questões, se continuasse na paróquia. Apenas digo: parece-me que se pode encher com mais vida todos os espaços do Mosteiro. Mas, antes de se partir para grandes propostas, devemos focar-nos em questões mais práticas, como, por exemplo, resolver o problema dos pombos que conspurcam o edifício, dentro e fora, o acesso em rampa para a entrada na igreja do mosteiro pela porta principal, a venda de ingressos e outros artigos dentro do templo. As primeiras impressões dos que contactam o edifício começam por aí. Estou certo de que, com boa vontade e esclarecida ousadia, se irão encontrar soluções que permitam conciliar, dentro do Mosteiro, as dimensões cultural, turística e espiritual. Todas são importantes e transversais. As boas relações, institucionais e pessoais, entre a paróquia e a Direção do Mosteiro, levam a acreditar que se vão encontrar os rumos mais adequados para lá chegar.

 

 

(Saiba mais na edição em papel de 7 de agosto de 2014)

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