25 de Abril em Alcobaça, mais do mesmo

José Alberto Vasco
Escritor

As recentes comemorações do 50.º aniversário do 25 de Abril em Alcobaça voltaram a evidenciar a incorreção de critério e a desfaçatez de programação que tem noutros anos evidenciado a planificação local desta efeméride.
Entre os seus tópicos mais relevantes, manteve-se a tornada usual caminhada comemorativa, opção sempre estranha e desadequada neste enquadramento, dado ser o tipo de evento cuja natureza pode servir para comemorar qualquer tipo de acontecimento ou festividade, faltando-lhe a essencialidade da conexão com os princípios e conquistas proporcionadas pela Revolução de Abril e as suas caraterísticas essenciais. Juntar naquelas comemorações a inauguração do distinto e singular Museu das Máquinas Falantes ou mais uma apresentação local de “Lúmen, Uma História de Amor”, monumental obra-prima da S.A.Marionetas, foi também redutor, em virtude de a elevada qualidade de ambas lhes comprovar o direito de serem autónomas face a uma comemoração deste género, com a qual nenhuma delas assume uma relação identitária direta, sendo inadequado agregálas, também na medida em que convertem e desvirtuam a fundamentação comemorativa em causa. O épico final desta última, com a convidada Sónia Tavares numa sentida e irresistível interpretação de “E Depois do Adeus”, uma das canções eternamente relacionadas com a Revolução de Abril, foi a exceção que evidenciou o erro autárquico de programar estas comemorações, optando essencialmente pelo espetáculo e pela multidão desconexa, descaraterizando um evento em que se comemorava a profunda metamorfose que a sociedade portuguesa assumiu com o sucesso do 25 de Abril, que assim esteve quase ausente nestas comemorações, em que se exigia muito mais, nomeadamente em termos de concertos ao vivo centrados na música popular e na música culta representativa da liberdade conquistada, bem como na área teatral e literária, assim como em eventos que interessassem diretamente o público juvenil, cujo interesse neste conhecimento testemunhei participando em bem sucedidas sessões promovidas em escolas deste concelho, por si unilateralmente organizadas.
De que nos serve ter um pelouro da Cultura que programa tudo e mais alguma coisa seguindo praticamente os mesmos padrões e as mesmas ideias de sempre, sem inovar e sem se adaptar minimamente a novos tempos e novos públicos?

José Alberto Vasco
Escritor

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