Compromisso

Ana Caldeira
Diretora do jornal O ALCOA

Uma vida a servir até ao fim é digna de nota, seja ela de uma rainha ou de qualquer um.

“As pessoas que amam servir são raras em qualquer âmbito da vida. Líderes que amam servir são ainda mais raros. Mas, em todos os casos, aqueles que servem serão amados e recordados, enquanto aqueles que se apegam ao poder e aos privilégios são esquecidos”, afirmou Justin Welby, o arcebispo da Cantuária, nas cerimónias fúnebres da rainha Isabel II. Já quase tudo se disse sobre a rainha de Inglaterra. Em 70 anos de reinado, esteve em muitas terras e lugares, incluindo Alcobaça. Durante a sua primeira visita oficial a Portugal, a 20 de fevereiro de 1957, a rainha e o marido subiram a escadaria do Mosteiro de Alcobaça, entre estudantes da Universidade de Coimbra que estenderam as capas à sua passagem, seguindo-se um banquete no Refeitório. Pode parecer muito atrativo viajar muito, presidir a múltiplos atos públicos, estar no centro de todas as atenções. Mas o que é por obrigação deixa de ser diversão. É trabalho e dever.

Em Isabel II, dois aspetos me interpelam em particular. Ver como, nas muitas imagens na televisão destes dias, a rainha quando está a falar com pessoas, pergunta, escuta, mostrando interesse pelo interlocutor, seja ele um chefe de Estado, seja um cidadão comum. Outro aspeto marcante da sua vida foi a sua dedicação até ao fim. Com mais de 90 anos ainda tinha mais de 300 compromissos por ano. Nunca «meteu os papéis para a reforma». Comprometeu-se e cumpriu até ao fim como disse aos 21 anos: “Declaro diante de vós que toda a minha vida, seja ela longa ou curta, será dedicada ao vosso serviço”.

Há algum tempo, um monge cisterciense, que já vimos em Alcobaça, explicava-me que a falta de vocações religiosas e de matrimónios duradouros se deve à mesma causa: a dificuldade de compromisso para a vida. A rainha Isabel II, com toda a visibilidade que tinha, deu nesse capítulo um extraordinário exemplo ao mundo. E, embora muitos pensem e vivam de forma diferente, afinal o mundo rendeu-se a uma mulher que não se impôs só pela coroa que usava, pelo bom gosto, pela inteligência das suas opiniões que sempre guardou dos microfones, mas pela constância, pela discrição e pelo serviço.

Ana Caldeira
Diretora do jornal O ALCOA

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