Crescimento sem emprego

Nelson José Faustino
Professor da Un. de Coimbra

Longe vão os tempos em que, embalados por músicas como ‘Postal dos Correios’ dos Rio Grande (1996), ambicionávamos tirar um curso que nos desse um emprego com saída.

Este desejo desvaneceu-se com a crise de 2011. E agudizou-se com a atual crise pandémica, em que milhares de pessoas perderam os seus empregos.

A bem da verdade, não podemos ignorar que a massificação das tecnologias de informação, e a adoção de algoritmos de inteligência artificial estão a contribuir para o surgimento de uma nova realidade socioeconómica, designada pelo sociólogo italiano Domenico De Masi por crescimento económico sem emprego. E que, segundo este, veio para ficar.
Se por um lado produzimos cada vez mais bens e serviços – por conta do avanço tecnológico das últimas décadas – por outro lado é cada vez mais frequente encontrar pessoas com múltiplos empregos temporários [e precários]. Sem falar na latente desorientação e depressão dos que não se encontram a trabalhar.

Este atual cenário contraria dois célebres mitos da teoria económica. A saber: “Para erradicar a pobreza, é necessário crescimento económico.” (sic); “Apenas se aumenta a produtividade trabalhando mais horas.” (sic). E pede-nos respostas criativas e urgentes a nível económico e social, muito para além das “18 Medidas de Apoio à Família” publicitadas neste jornal pelo atual executivo camarário – publicidade paga, diga-se.

Reduzir o horário de trabalho de modo a manter os empregos intactos seria uma possível medida a ser estudada em concertação social pelo próximo governo e entidades patronais. A nível local, assegurar que todo o munícipe – sem discriminação de género ou classe social – tivesse direito a uma renda básica (Rendimento Básico Incondicional) seria uma medida mais inclusiva.

Mas sobre isso falarei numa outra oportunidade.

Nelson José Faustino
Professor da Un. de Coimbra

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