“Deus ajuda”

Ana Caldeira
Diretora do jornal O ALCOA

Ela não dizia; ela era! Da minha geração, outras daqui a conheceram.

Quando fui estudar, a Irmã Celeste era a responsável pela vertente da residência universitária. Divertida, bonita, de vivos olhos verdes, cheia de «garra», muito trabalhadora e despachada. Antes das 7h30, passava para a oração da manhã, mas muitas vezes se deitava pelas 2h00 da manhã, pois quando estávamos em casa passava pelas dezenas de quartos e salas de estudo. Connosco nunca tinha pressa, com tempo para escutar e gosto de se rir connosco, mostrando, sem afetação, uma vocação muito feliz. Depois, partiu: 15 anos em Cuba e há 11 na Ilha de Marajó, na Amazónia. Quando vem a Portugal, é marcante o seu testemunho de confiança em Deus. Em Cuba, a sua «riqueza» era ter duas esferográficas, para poder substituir a que tinha, mas se uma criança lhe pedisse para a escola sempre dava. E perdeu a conta às vezes em que, no dia ou no seguinte, chegava uma visita ou encomenda da Europa com… esferográficas. No Brasil, aos 71 anos, ficou com febre alta, tinha de ser tratada em Belém. O barco, que leva oito horas na travessia, nesse dia não veio, mas ela não arredou pé do cais: “Eu digo sempre: Deus ajuda”. Alguém lhe desencantou uns turistas para a levarem e lá tratou o seu problema renal. A missão tem formação para crianças e jovens, mas com a crise dos refugiados na Europa, passaram a ter poucos donativos. Qual «reformar-se»!, só se preocupa com manter a missão. Quando lhe chega algum donativo, logo envia uma foto: uma melhoria para uma família, uma avaria resolvida na escola… Com o lema, como partilhou no WhatsApp: “Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que te amo” (Jo 21, 17), a 12 de setembro, celebrou 50 anos de religiosa. Nesta “cultura do provisório” como diz o Papa Francisco, 50 anos de entrega é espantoso. Como diz o Frei Henrique, do Mosteiro do Sobrado, que já vimos em Alcobaça: há uma grande dificuldade de se comprometer para a vida; os jovens não casam ou, se casam, facilmente se separam e o mesmo nas vocações religiosas. Sem estas, não haveria em Alcobaça nem o que resta da glória de outrora… Sobretudo abrem, pela oração e pela entrega, o nosso coração à fé e à esperança: “Deus ajuda”. Sempre.

Ana Caldeira
Diretora do jornal O ALCOA

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