Editorial

Catarina Reis
Diretora do jornal O ALCOA

Nasci depois da revolução dos «cravos», as memórias que guardo são vividas através dos meus pais. A 25 de Abril de 1974, viviam em Lisboa, no Príncipe Real. A ditadura era «observada» como tempos difíceis, criados por uma governação de um regime anacrónico, numa altura em que a taxa de analfabetismo rondava os 25%.
Havia muita fome e frio, principalmente no interior. A infância terminava aos 10, 12 anos, altura em que os filhos eram chamados a contribuir, com trabalho, para as famílias. Poucos eram os que prosseguiam os estudos. A ignorância funcionava como uma poderosa arma para a propaganda política, da ocupação das chamadas Províncias Ultramarinas. A censura apreendia livros, não tolerava visões contrárias, nem aceitava alternativas políticas. A figura de informador, delator, denunciante ou até de «bufo» era real e havia-o por todo o lado, no seio da família, no círculo dos amigos, no meio das relações laborais, ou na casa do vizinho. Nada se podia dizer contra o regime, primeiro de Oliveira Salazar e depois de Marcello Caetano, sem sofrer sequelas, incluindo a imprensa e os jornalistas. As publicações tinham de ter o aval do Estado, apareciam com a intervenção do famoso «lápis azul».
No tal dia de ABRIL, o primeiro sinal passou pelas «ondas» da rádio que balançavam ao som de canções de Paulo de Carvalho e Zeca Afonso. A emissão de madrugada intuía que algo se passava. O meu pai, que saíra para trabalhar, foi «obrigado» a regressar. Pouco tempo depois, soube-se da revolução, levada a cabo pelos militares de vários ramos, liderados pelo Movimento das Forças Armadas. Com cravos vermelhos nos canos das espingardas e nas lapelas, derrubaram o regime do Estado Novo. No meio de uma revolução, sem balas, que encerrou uma ditadura de 48 anos, sobressai a vontade de mudança. E muita coisa mudou efetivamente, incluindo a liberdade de imprensa. Como imprensa regional que viveu o antes e o depois, são os 50 anos do 25 de Abril que destacamos nesta edição d’O ALCOA.
Fazemo-lo com essa missão de ter sempre presente que não existe maior liberdade do que a de poder fazer parte da liberdade do outro.

Catarina Reis
Diretora do jornal O ALCOA

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