Numa conversa, ouvi criticar um político porque ele falava demasiado em estatísticas.

Infelizmente, mesmo quando não queremos ouvir falar de estatísticas, acabamos por esbarrar nelas na vida real.
Uma pessoa de Alcobaça, infetada com COVID-19, foi encaminhada pela Saúde 24 para o Hospital de Leiria dado os seus problemas de saúde. Ali ficou 10 horas e não foi vista por um médico, devido à grande falta de médicos na urgência, como recentemente noticiámos. No país, nascem cerca de 80.000 crianças por ano, mas emigram anualmente cerca de 30.000 portugueses, muitos destes jovens qualificados. Com efeito, segundo dados recentes do INE, desde 1940, as últimas duas décadas foram aquelas em que Portugal registou menor crescimento económico. De acordo com a OCDE, os portugueses recebem hoje os salários mais baixos da Europa Ocidental, embora paguem a sétima carga fiscal mais elevada sobre o trabalho (41%). Quem está a construir o seu futuro procura melhores condições, no setor privado ou no estrangeiro. E vai daí, vamos a um hospital e esbarramos nas estatísticas.

Talvez porque os jovens votam pouco e emigram muito, “este país não é para”… novos. As gerações agora chegadas ao mercado de trabalho enfrentam uma altíssima carga fiscal, mas terão pensões reduzidas, a par de encargos deixados para elas pagarem no futuro. Um investigador, que fez o doutoramento com a mulher no Reino Unido, dizia-me que voltou para que as filhas crescessem juntos dos avós: “de resto, lá é tudo melhor; melhores oportunidades de trabalho e de progressão na carreira, mais autonomia e menos horas de trabalho”. Tenho filhos e esta situação, que tanto afeta os jovens, entristece-me muito. Como me entristecem questões ainda mais graves: quantas crianças não nascidas, e mortas com o dinheiro dos nossos impostos (ironicamente num país tão envelhecido como os censos mostram!), ou a eutanásia a caminho. Como eu, haverá certamente muitas pessoas indecisas. Em quem votar?