Entrevista dos pobres ao Papa

José Maria André
Professor do I. S. Técnico

Por momentos, tento não pensar no sofrimento dos ucranianos. Além de rezar, não falta fazer alguma coisa? Esforço-me por falar de outros temas.

Foi lançado hoje (sexta-feira, 1 de Abril) o livro “Des pauvres au Pape, du Pape au monde” (Éditions du Seuil), em que o Papa responde a uma centena de perguntas que vários pobres lhe colocaram. A maioria deles mais interessados em conhecer o Papa propriamente que em questões complexas

Qual o seu poema preferido? Que livro?

– “Não sei, eu gosto de muitos livros… Gosto dos clássicos. O meu favorito é a Eneida. Também li muitos autores modernos. Mas os clássicos moldaram-me mais…”.

O que come? O que o relaxa mais? O que mais admira nas pessoas?

– “A simplicidade e a transparência. A simplicidade atrai-me, faz-me bem ver pessoas simples e transparentes”.

Qual o desporto preferido?

– “Futebol! Mas não jogo. Mesmo quando era novo colocavam-me sempre à baliza, porque jogava mal”.

Que faz em momentos de incerteza?

– “A tentação é resolver o assunto rapidamente. Mas eu paro, pelo menos tento parar. Porque às vezes fico ansioso e quero ver-me livre do problema quanto antes. E quando faço isso, corre mal. Por isso, tento parar e dar tempo ao tempo, considerar as coisas, a consultar algumas pessoas, rezar”.

Quais são os seus defeitos? Que fotografia tem na mesa do escritório? Que cenas o comoveram especialmente?

– “Muitas. Em alturas diferentes. Uma coisa que eu vi e me comoveu muito foi a fila de mulheres no exterior da prisão, a visitar os filhos ou os maridos. Via-as quando passava no autocarro. Via a sua lealdade. Passavam a vergonha de estar ali à porta e todos saberem que eram a mãe ou a mulher de um preso. Mas não lhes importava. Lealdade. Tocou-me por dentro e ajudou-me tanto… Tanto!”.

Ainda conduz automóveis? Com quem se confessa? Porque escolheu o nome de Francisco? Qual o seu maior desejo? O que mudaria no mundo, se só pudesse mudar uma coisa?

– “É engraçado, vem-me à cabeça a palavra ‘mãe’ ou ‘mãezinha’. Que todos tenham uma mãe! Que todos saibam o que é ter uma mãe. Sofro quando vejo estas crianças ou jovens (…) que não têm mãe. Têm uma mãe, mas não a mãezinha querida. Eu sofro muito por estes órfãos. Poderia dizer o mesmo daqueles que não têm pai, mas falo da mãe, porque me parece que a mãe tem um peso simbólico maior”.

Qual o seu santo preferido?

– “Santa Teresinha de Lisieux”.

Como reza ao Anjo da Guarda? Qual a importância de Nossa Senhora na sua vida? A sua oração preferida? Porque se veste assim? Em que pensa, ao acabar o dia?…

Entretanto, continuamos a viver com o coração apertado perante o espectáculo de selvajaria do exército russo na Ucrânia. Como os ucranianos continuam a resistir heroicamente, destroem-lhes o país e matam a gente sem que nenhuma autoridade mundial consiga pôr cobro a este horror. Contam-se por milhões os ucranianos que conseguiram fugir para o estrangeiro, há dezenas de milhares de mortos entre os ucranianos, atingidos pelas bombas e pelas balas. E um número muito maior de vítimas da fome, da sede e da doença nas cidades cruelmente cercadas pelas forças russas. Há também baixas pesadas entre os soldados russos.

Este horror tem de parar!

Os países vizinhos da Ucrânia, sobretudo a Polónia, têm sido de uma generosidade extraordinária a acolher os refugiados. A União Europeia fez alguma coisa, como ligar a rede eléctrica ucraniana à da Europa ocidental, para os ucranianos continuarem a ter energia, apesar de tanta destruição. Empresas norte-americanas ofereceram internet a partir de uma rede de satélites, para os ucranianos conseguirem comunicar. De todas as partes, há um sentimento de solidariedade para com estes heróis que lutam pela liberdade.

Infelizmente, a comunidade internacional não tem coragem para impedir esta chacina. Cresce a aflição com que acompanhamos a desgraça da Ucrânia e o sentimento de culpa por não os ajudarmos suficientemente.

José Maria André
Professor do I. S. Técnico

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