Hoje, tem um nome talvez pomposo, eventualmente mais moderno, mas para mim, será sempre a Escola Preparatória da Benedita.
Cheguei lá em fevereiro de 1976, no rescaldo dos conturbados tempos pós 25 de abril, após um concurso muito turbulento e surreal. Vinha da Escola Comercial e Industrial de Tomar, fundada em 1884, posteriormente designada por Escola Secundária Jácome Raton, instituição muito prestigiada, na altura a fervilhar de vida. Aí, nesse tempo, a política e o ensino faziam uma mescla imperfeita.
A Escola Preparatória da Benedita era minúscula, desvalorizada por alguns e não tinha o mínimo de estruturas. Em comparação à de onde eu tinha vindo, era como do dia para a noite. Éramos uma dezena de docentes, quase todos provisórios e, em simultâneo, estudantes universitários. Não havia cantina, nem bar, nem ginásio, nem instalações próprias, nem biblioteca. Havia, contudo, um excelente ambiente na comunidade educativa que nunca mais encontrei durante a minha longa carreira e multifacetada atividade profissional pelas muitas escolas por onde passei, por esse país fora! Quando voltei, já em 1980, a realidade já era bem diferente. Recordo, ainda, os poucos funcionários administrativos e auxiliares que se integravam muito bem naquela pequeníssima equipa. Éramos quase todos muito jovens, com vinte e poucos anos, imaturos, mas generosos. Foi um período de inovação e, às vezes, de modo sinuoso, procurou-se o caminho certo.
Sobre a Escola Preparatória Frei António Brandão, sobre os primeiros tempos, tenho inúmeros dados, muito importantes, que reservo só para mim. Não os quero partilhar para já, por razões que só eu sei. Ainda não é a altura de os colocar à luz do dia. Talvez, um dia, apareçam num eventual livro. Relembro os alunos desse tempo, alguns excelentes que singraram na vida. Era fácil, «adivinhar» esse percurso. Hoje, são homens e mulheres com quase sessenta anos!
Apenas uma retificação sobre o que tenho lido: em 1972, nascia na Benedita, a secção da Escola Preparatória de Alcobaça e que, como é lógico, dependia da sede. Só em 1975, passou a escola autónoma. A memória dos homens, pelo menos de alguns, é mesmo muito, muito curta!
Quero, também, recordar a figura injustamente esquecida de Tarcísio Trindade, que tanto lutou para que essa escola nascesse. Mais tarde, alguns apareceram na fotografia, mas nada fizeram para que esse sonho se concretizasse. Folclore!
Finalmente, presto homenagem ao Professor José Timóteo de Matos que dirigiu a escola num tempo dificílimo e que foi vítima de algumas afrontas, próprias de gente maldosa. Refiro-me ao célebre caso da “forca”, uma atitude cobarde e rasteira. Vinda de onde veio, deixou-nos a todos, espantados e incrédulos. Nunca mais vi o Timóteo. Passados quarenta anos, já minado pela doença, com a voz trémula, pelo telefone, quis despedir-se de mim. Recordei-lhe aquele triste caso, e ele com a elegância que o caraterizava, disse-me: “Eu fui aluno do Seminário de Leiria; foi aí que aprendi a perdoar”.
Longa vida à Escola Preparatória da Benedita!