Advento é tempo de Esperança, mesmo “contra toda a esperança”.

Esta terça-feira, impressionou-me a resposta a uma jornalista de uma manifestante nos inesperados protestos na China: “Não, não tenho esperança de que sejamos ouvidos”. E, no entanto, mesmo perante o risco de prisão, tortura e perseguição, como documentam muitas organizações não governamentais, há chineses, iranianos, russos que saem à rua. Porque não conseguem mais ficar calados. Mesmo “contra toda a esperança” (Rom 4, 18). Apesar de todas as perseguições e até mortes, também por causa da fé.
Neste contexto, para os cerca de 12 milhões de católicos da China, deve ter sido também muito desesperante a notícia de sábado passado: em comunicado, o Vaticano lamentou a violação do acordo assinado em 2018 entre a Santa Sé e a China. O acordo – que restabeleceu as relações diplomáticas entre os dois estados, cortadas em 1951 quando o regime comunista chinês criou a sua Igreja Católica Patriótica, ficando os católicos romanos na clandestinidade – veio terminar com a situação de duas igrejas católicas na China. Neste acordo de 2018, que se mantém confidencial, ficou definido, como explicou o Papa Francisco, que a nomeação papal de um bispo passaria a ser comunicada à China para aprovação do regime chinês. O acordo tem indubitavelmente um bom propósito. Porém, a China violou o acordo assinado e o regime chinês voltou a nomear um bispo à revelia da Santa Sé. É triste. Mudou o Papa e com ele a abordagem da Igreja de um problema muito complexo. O que não mudou foi o presidente da China nem o regime.

Notícias como esta ou circunstâncias pessoais podem abalar a nossa esperança. Porém, como a história comprova e a nossa fé nos assegura, em toda a ditadura, treva ou situação injusta, mais tarde ou mais cedo, acaba por vencer a Esperança. Não por uma pessoa só, não apenas por ação humana, não logo, mas quando as sementes do Advento florescem no coração e na ação de muitos.