Feira de Setembro – 300 anos

João Luís Maurício
Professor de História aposentado

A Câmara Municipal de Rio Maior acaba de editar a obra “Feira de Setembro – 300 anos”. Um agradecimento pela oferta de um exemplar, de uma edição reduzida e que não se destina ao chamado mercado livreiro.
É justo louvar e saudar os autores deste interessante e rigoroso estudo: os técnicos da autarquia, Ricardo Rosário e Sónia Rebocho.
A capa é da autoria de António Maia, prestigiado cartoonista riomaiorense, com raízes familiares na Benedita.
Não é possível, nesta pequena crónica, referir os detalhes deste estudo e das várias pistas que deixa no ar, nomeadamente as componentes: agrícola, histórica, antropológica, de entretenimento, rural, e muitas outras.
Ler a “Feira de Setembro – 300 anos” é compreender a evolução que a terra teve durante séculos e como feira, serviu para projetar o nome de Rio Maior por esse país fora, no sentido geral e, mais concretamente, no Ribatejo e na Região Oeste.
O certame, até há meio século, tinha forte impacto nos concelhos vizinhos e, também, na parte sul do município alcobacense.
No início do século XX, a feira fixou-se no espaço da atual Rua 5 de Outubro, onde se situava a capela de S. Sebastião, construída no século XVI. A autarquia, alegando questões de segurança, resolveu demolir o referido templo. Foi uma decisão muito polémica, dado que esse santo era muito venerado no concelho. Opinava o município que havia necessidade de alargar o espaço pois a capela encontrava-se em estado de degradação.
Sónia Rebocho, com a lucidez que a caracteriza escreve que o poder concelhio tomou essa decisão, em 1914, por questões de ordem ideológica “considerando o contexto da implantação do regime republicano e os valores do laicismo”. De facto, havia antecedentes que convém recordar: o jornal “O Riomaiorense” (15/8/1912), refere-se às “quezílias entre as autoridades públicas e os elementos do clero no concelho de Rio Maior, nomeadamente, o caricato episódio da detenção do padre Artur dos Santos, prior da freguesia de Fráguas, por andar na via pública pedindo, de porta em porta, o folar”.
Acrescentamos nós que o padre Quartilho, pároco da vila, nessa época, foi, por várias vezes, incomodado por republicanos locais, algo radicais.
Eram poucas, mas muito ativas, essas forças políticas, juntamente com a maçonaria riomaiorense.
O livro faz, também, um retrato do extinto circuito ciclista, criado em 1958, que animava a feira e onde brilharam grandes figuras como Alves Barbosa e Joaquim Agostinho.
De realçar, as fotografias emblemáticas dos espólios do médico Fernando Aguiar e do fotógrafo Luciano Rodrigues, figuras de boa memória, já desaparecidos.
Ficam, assim, perpetuados factos da história da chamada e conhecida “Feira das Cebolas” que, se não fosse este livro, correriam o risco de se perderem da memória coletiva.

João Luís Maurício
Professor de História aposentado

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