Francisco

Escrevo pela terceira vez sobre o Chefe da Igreja, como se fosse um vaticanista – que não sou. Mas a elevação do Cardeal argentino Jorge Mário Bergoglio ao trono de S. Pedro é um acontecimento notável. Porquê? Desde logo, pela abertura que permite à Igreja. Criticou o “narcisismo teológico”, defendeu uma Igreja que deixe de viver fechada para si e sobre si. Pediu aos pastores que “vão respirar o ar dos fiéis e o odor das ovelhas”. Preconizou “uma Igreja dos pobres e para os pobres.” E, por enquanto, fica na Casa de Santa Marta. Os apartamentos papais estão prontos mas, quando os foi visitar, o Papa disse: “Aqui podiam viver trezentas pessoas.” Sintomático. É o fausto versus a simplicidade de Francisco. Um nome carregado de simbolismo. Francisco de Assis, esse pobre andrajoso do século XII, teve a sorte de não ser escorraçado pelo poder faustoso da Santa Sé e de viver na época de Geovanni Lotário, dos condes de Segni, que foi o poderoso Papa Inocêncio III. Este Papa, embora a não tivesse aprovado, aceitou e elogiou a regra de S. Francisco de Assis. O novo Papa é jesuíta. Ora, os jesuítas são uns “todo o terreno” da Igreja Católica. Operam no contacto direto com as dificuldades da vida, com a delinquência, a droga, a prostituição. O meu grande amigo Henrique Rios é jesuíta. Numa sua visita a Turquel cruzámo-nos com o Sr. Amílcar Costa, já falecido, que passara longo tempo em Moçambique. “Olha o Sr. Padre Rios!” – grita o Sr. Amílcar. Conheceram-se em Moçambique e começaram a desfiar recordações. Como o caso do gerador que avariou antes da missa vespertina, já noitinha, lá no mato. O padre, do clero regular, não quis celebrar ao lusco fusco das velas. Isto indispôs os presentes, que foram à missão dos jesuítas, ali próximo, procurar um celebrante. Regressaram com esta resposta: “Vem aí um jesuíta celebrar, mas ele diz que, primeiro, repara o gerador e depois celebra com luz”.
Francisco disse há poucos dias: “Os direitos do homem não são apenas violados pelo terrorismo, a repressão, o assassinato, mas também pelas estruturas económicas que criam enormes desigualdades.”
Habemus Papam.

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