Ou a liberdade se faz cada dia com coragem, ou a democracia degrada-se.
Quando estudava no ensino secundário, foi-nos dada a tarefa de escrever sobre o 25 de Abril. Fiquei toda feliz nos meus 16 anos pelo facto de o meu texto ter sido premiado e publicado na imprensa local. Lembro-me que terminava assim: “Um dia, em Portugal, uns homens resolveram fazer liberdade…”.
Continuo a pensar que a liberdade se faz.
Entristece-me muito a polarização crescente no mundo: o avanço da extrema esquerda e da extrema-direita, como se vê em França (depois dos milhões de vítimas do comunismo e do nazismo no século passado!!), o fosso entre as elites culturais e o povo, a cisão entre o país rural e o país urbano na afetação de recursos e nos problemas vividos. Divisões ateadas por novos (velhos) extremismos: o movimento woke nascido nos Estados Unidos, a cultura do cancelamento, o regresso da ideologia da supremacia branca e neo-nazi, o ressurgimento dos nacionalismos, a ditadura do marxismo cultural… Evolução tão diferente da que antecipava aos 16 anos. Continuamos hoje a fazer liberdade, igualdade, desenvolvimento? Na política, maiorias na Assembleia da República, comunidades intermunicipais, etc., ignoram a representatividade democrática e, sempre que os regimentos o permitem, arrebanham todos os cargos e prerrogativas que podem. Sendo a igualdade de oportunidades basilar numa democracia, raramente os melhores e mais íntegros ocupam lugares cimeiros, com escolhas baseadas na filiação política e no compadrio. O mesmo sugere, por exemplo, o caso do ISCTE quanto ao financiamento público. As assimetrias no desenvolvimento do país são gritantes. Já o torpor democrático é homogéneo: em contraponto com os 90% de votantes em 1975, mais de 50% do país abstém-se nas eleições, uma das taxas mais altas da Europa. A liberdade e a democracia fundam-se no desenvolvimento educativo, cultural, económico… humano. Muito há a fazer!