Lisboa – 25 de abril de 74

Lúcia Serralheiro
Terra Mágica das Lendas

Lisboa – 25 de abril de 74. O irmão, que se encontrava, no Instituto Industrial, voltou cedo a casa a dizer que tinha havido uma revolução. Será outro 16 de março? Pairava a dúvida. A rádio lia comunicados do Movimento das Forças Armadas pedindo que se ficasse em casa. Ele correu para a Baixa, só a irmã mais velha impediu saírem. Outros perguntavam beliscando-se “será que estou a sonhar?” Pouca gente nas ruas, muita às janelas. Um a um os espaços do poder iam sendo tomados e a esperança crescia. No dia seguinte todos estavam nas manifestações do povo pelas vias de Lisboa gritando: “O Povo Unido jamais será vencido” e outras palavras de ordem: “nem mais um soldado para as colónias”. Regressados a casa, o porteiro informa que um PIDE residente no prédio se tinha suicidado. Hoje ainda se diz que nem houve bem o devido saneamento deles, apesar de muitos outros e quiçá alguns exageros, mas como tantos outros, o pai de Jorge Sampaio, médico de alto cargo no sistema, não foi saneado pelo seu honesto profissionalismo. Foram libertos os presos em Caxias e de outras prisões políticas. Chegou o dia dos trabalhadores, que até aí era sempre perseguido. Desta vez contou com Mário Soares e Álvaro Cunhal. À chegada de ambos ao país, entre a multidão que os esperava, lá estavam um ou outro dos irmãos e não se ia faltar ao 1.º de maio. A irmã mais velha lia todos os jornais matutinos e vespertinos, primeiras e segundas edições. Alegria: o tribunal já não condenou “As três Marias” autoras do livro Novas Cartas Portuguesas apreendido por ofensas à moral pública!!! Em casa tachos todos queimados, comida esturricada, roupa por lavar e pés que já não aguentavam ir ao 1.º de maio. Foi à janela. A rua cheia de gente correndo para o Estádio decidiu-a a juntar-se. E ainda se junta por causas justas que a liberdade do 25 de abril nos devolveu… A guerra acabou, os estudantes fizeram serviço cívico e ela não quis mudar as notas de apto recebidas nesse ano e no seguinte, quando mais tarde houve essa possibilidade. Viva o 25 de abril!

Lúcia Serralheiro
Terra Mágica das Lendas

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