Não caminharás só

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

Durante todo o ano, a nossa região vê-se abençoada com a presença de peregrinos a caminho de Fátima. Nos últimos dias, o número tem claramente aumentado, pela proximidade ao dia 13 de maio, aniversário da primeira aparição de Maria aos pastorinhos. Vale a pena contemplar o rosto de um peregrino. Transparece coragem, no desafio de alcançar o santuário. Ou sofrimento, próprio de quem se custa a dar mais um passo. Ou a alegria de se sentir acompanhado pelos outros. E pelo Outro.
Há uma semana atrás, tive a graça de ir a Fátima a pé com a família mais alargada. Eramos catorze. Iniciámos o percurso junto à casa dos meus bisavós. O ponto que nos une a todos. O princípio da nossa história. Partimos. Caminhar foi dando azo à meditação. Partilhar essas intuições com os outros ajudou-nos a escutarmo-nos a nós mesmos e a organizar ideias. Fomos rezando. Confiando a Deus o nosso ser. Na verdade, é Ele o guia de qualquer peregrino e não tarda em dar-nos sinais da sua presença.
No segundo dia de caminhada, ao anoitecer, o grupo estava de rastos. O cansaço era grande. Os pés de alguns estavam uma lástima. Compreendemos que à hora a que chegaríamos já não haveria lugar onde pudéssemos jantar. Era claro o desânimo e senti-me preocupado com todos. Eis que a um determinado momento, nos deparámos com uma pessoa junto à estrada. Era conhecida de alguns de nós e como sabia que iríamos passar na sua localidade, ficou atenta a ver se nos encontrava. Reunido o grupo, levou-nos até sua casa. Quando entrámos, o espanto foi geral. Tínhamos a mesa posta. Um banquete preparado para nós. Recuperámos as forças e depressa se notaram sorrisos de gratidão. No fundo, foi um abraço de Deus. Um apelo a perseverar. Escusado será dizer que esta e tantas outras histórias ficaram gravadas em nós.
Peregrinar é uma imagem da vida. Caminhamos para um santuário maior. O da eternidade. Até lá existem alegrias, sofrimentos, dúvidas, medos, surpresas. No final, acabamos por concluir que não caminhamos sós. Connosco vão os outros… e o Outro.

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

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