O paradeiro de Deus

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

O mundo tem estremecido com as notícias de Marrocos. O sismo de dia 8 de setembro, com epicentro em Ighil, registou uma magnitude de 7,0 à escala de Richter, de acordo com o Instituto Nacional de Geofísica de Marrocos. Levou à morte de aproximadamente três mil pessoas. Deixou para trás ainda cerca de 5.500 feridos. As imagens de destruição não nos deixam indiferentes. Nestes momentos sentimos a dúvida: se Deus é Amor e nos ama infinitamente, onde estava tal amor quando aquelas comunidades desabavam? Qual o paradeiro de Deus?
No trabalho de capelão do hospital de Alcobaça deparo-me, inúmeras vezes, com estas questões. Semanalmente, tenho a graça de poder administrar a Unção dos Doentes a todos quantos o solicitam ou de conversar com as pessoas e suas famílias. Costumo contar-lhes a história das pegadas na areia. Mesmo que já a conheçam, faço questão de a repetir. Ganha um novo sentido naquelas circunstâncias. Um homem caminha praia fora. Alegra-se com a beleza da paisagem e sente-se animado. Ao olhar para trás, vê as suas pegadas gravadas no chão e, ao lado delas, as de alguém. São as de Deus. Compreende, então, que Ele abraçara a sua vida para não mais a abandonar. No entanto, cai uma forte tempestade. A areia banhada pela chuva torna-se mais difícil de caminhar. A fúria dos relâmpagos e das ondas do mar fazem-no temer. O cansaço fá-lo cair por terra. Olhando para trás, vê apenas as suas pegadas. As outras tinham sumido. No mais fundo do seu ser, o homem pergunta a Deus onde é que Ele se encontra. No silêncio do seu coração, ele ouve a voz divina: “Eu estive sempre lá. As pegadas que vês atrás de ti não são as tuas. São as minhas, pois estou a levar-te ao colo.”
Seguindo o raciocínio da história, temos a resposta. Onde estava Deus? Nos membros da família que rodeiam o doente e que se revezam para que nunca lhe falte uma presença de quem mais ama. Nos profissionais de saúde, que lhe garantem os necessários cuidados e suavizam a sua dor. Deus estava presente na mãe, que procurava o seu filho a todo o custo, por entre os escombros. Estava em todos quantos se prontificaram a ajudar os marroquinos mais necessitados, sem nada esperarem em troca. Está naqueles que não conseguem conter as lágrimas ao observarem a destruição e são mensagem para o mundo como súplica por amor. Afinal, Ele está sempre lá. Continua a levar-nos ao colo.

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

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