O sindicato e as greves

Afonso Luís
Bancário aposentado

Começo por uma declaração prévia. Durante a minha vida profissional fui sempre sindicalista. Quando, depois da revolução dos cravos, foram restauradas as liberdades e, logicamente, instituído o direito à greve, desde logo passaram os trabalhadores a ter outro poder reivindicativo, em relação ao patronato. É um direito legítimo e, como tantos outros, só possível em regimes democráticos. Claro que não existia na União Soviética, como hoje não existe na Federação Russa, de Putin. No entanto, em alguns países, incluindo Portugal, passou a verificar-se um pequeno “senão” na constituição dos sindicatos: passaram, genericamente, a ter direções afetas a partidos políticos, aos quais, por vezes, obedeciam docilmente. Todos os sindicalistas se recordam dos confrontos entre centrais sindicais, protagonizados sobretudo pela Intersindical que, desde o início, passou a ser o braço sindical do partido comunista. Arrogando-se o partido dos trabalhadores, o partido comunista sempre se tem servido da Intersindical para a sua habitual “luta nas ruas”. É assim que chegamos ao tempo presente. É certo que a maioria dos sindicatos têm à sua frente gente que aquele partido teve artes para lá colocar, e por isso acontece, por exemplo, a Frenprof, ter como dirigente principal um indivíduo que considero, pessoal e ironicamente, o ministro da edução das últimas dezenas de anos. Recentemente, apareceu outro dirigente, também no ramo do ensino, que se salienta pelo seu ar destrambelhado, e que leva muitos professores atrás de si. Quando, nas sucessivas manifestações, os professores alegam a “defesa da escola pública,” caem em contradição devido às suas inúmeras greves. Também os sindicatos dos médicos vêm assumindo um certo protagonismo, com greves, para não falar dos sindicatos dos enfermeiros e de alguns outros menos relevantes. Dá a sensação de que há muita gente a pôr-se em bico de pés, a nível dos sindicatos, para aparecerem nas televisões. São greves e mais greves. É evidente que, na maioria dos casos, são justas as reivindicações apresentadas, mas temos de considerar que há muitas outras classes profissionais a justificar protestos, e no entanto são mais comedidas nas suas ações. Dou como exemplo os bancários, que tão prejudicados têm sido, enquanto os bancos arrecadam cada vez lucros mais escandalosos. Termino com esta informação: hoje é fácil fazer greve, mas no tempo da outra senhora era impossível e, apesar disso, os bancários fizeram (e eu também fiz) em 1973 uma greve de duas horas, logo a seguir ao almoço. Pobres grevistas de agora…

Afonso Luís
Bancário aposentado

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