Natural da Benedita, o cónego Paulo Franco foi nomeado, pelo Patriarcado de Lisboa, a 29 de setembro, para presidir ao conselho de gerência do Grupo Renascença Multimédia, sucedendo a D. Américo Aguiar, que deixou o cargo após ter sido nomeado Bispo de Setúbal. O balanço do seu percurso, a responsabilidade do novo cargo e os desafios da Igreja são alguns dos temas que aborda nesta entrevista a’O ALCOA.
Que balanço faz do seu percurso como pároco?
O balanço é positivo. Sou padre há 26 anos e estive sobretudo em duas grandes zonas. Estive oito anos no concelho de Mafra, onde fui pároco de três paróquias, em simultâneo, e, em 2005, mudei para Lisboa. Sou pároco do Parque das Nações desde aí. Durante um ano ainda estive na paróquia de Marvila.
Não tenho uma amplitude de experiência. Foi sempre um tempo com grande estabilidade, sobretudo aqui em Lisboa. No Parque das Nações, tive um projeto muito próprio de paróquia, de construí-la praticamente enquanto comunidade e infraestrutura, desde a sua raiz, o que implica um projeto de planeamento ao longo dos anos. Não possuo uma panóplia de experiências, mas aquelas que tenho fazem deste um percurso positivo e feliz. Um caminho também marcado por algumas situações difíceis e exigentes, algumas sofredoras, mas sempre com uma experiência muito feliz, daquilo que é ver a providência de Deus, manifestada também pelo que é a realidade da comunidade, dos paroquianos, de forma muito permanente e muito frequente. Isso é a melhor retribuição que posso ter como pároco.
Quais os maiores desafios da Igreja hoje?
A missão é a mesma. Continua a ser fazer presente, hoje, na vida da humanidade, o Evangelho de Jesus, a boa nova de Jesus. A forma e a metodologia para que isso possa ser feito e levar essa boa nova às pessoas muda, porque as estruturas, os hábitos, as prioridades e o âmbito social também mudam. Aí estão os grandes desafios da Igreja. Outra questão passa pela Igreja conseguir transmitir uma verdade em que acredita, num mundo onde as verdades se relativizaram. Num mundo onde cada pessoa pensa ter a sua verdade e em que ela é tomada quase como um valor absoluto, é difícil propor uma verdade que vai além daquilo que é a minha experiência pessoal. Quando a própria estrutura de pensamento está centrada no indivíduo, em detrimento de um bem maior e de uma realidade que vai para lá de si próprio. Portanto, conseguir transmitir e oferecer uma palavra de vida e uma palavra de verdade, quando, às vezes, não há espaço para uma verdade além da minha é o grande desafio.
Neste caminho ao serviço da Igreja, que importância tem a Benedita?
Somos sempre marcados pela nossa educação. Somos aquilo que nos ensinaram a ser ou que nos formaram para ser. Com 51 anos, quando tenho de tomar decisões um bocadinho mais sérias, a marca da minha educação, dos meus hábitos de infância, está lá. E, muitas vezes, é critério para seguir pela direita ou pela esquerda, para optar por uma via ou por outra. Portanto, a Benedita, enquanto geografia, não tem grande importância, mas tem-no pelo que significa para mim. As pessoas e aquilo em que elas me ajudaram a ser o que sou hoje, desde a minha família, os meus professores, os catequistas, a comunidade em que estive inserido e os meus amigos. Olho para a minha vida e fico feliz com o que tenho feito, não numa lógica de orgulho pessoal, mas na de cumprir a minha missão, pois no seu cumprimento está um bocadinho de todos os que me fizeram e me ajudaram a ser aquilo que sou hoje. Aí sim as pessoas que fizeram história, ao longo dos 17 anos em que estive na Benedita, o percurso onde estive mais permanentemente, essas pessoas têm uma importância fulcral na minha vida.
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