Procissão de S. Bernardo

Jorge Pereira de Sampaio
Historiador

A História é viva e o que é agora o presente passa a ser passado no segundo a seguir. No passado dia 20 de agosto quem esteve em Alcobaça na procissão de S. Bernardo viveu um momento que fica registado na história como uma procissão cívica que, seguindo as linhas condutoras do Santo Padre, Papa Francisco, congregando todos, numa manifestação congregadora de sagrado e de profano, com o propósito comum de juntar todo o concelho de Alcobaça.
O motivo foi festejar São Bernardo, o Doutor da Igreja e responsável pela vinda dos monges para Alcobaça há tantos séculos atrás e cujas palavras são tão atuais – «Tende sempre presente que todos cremos ser alguma coisa quando na verdade nada somos». O presidente da Câmara idealizou, o pároco de Alcobaça aceitou, bem como os restantes das paróquias do concelho, a autarquia convidou os movimentos associativos da região e, com entusiasmo, centenas de pessoas desceram a escadaria monumental do mosteiro em procissão.
Foi bonito de se ver padres e acólitos entre intelectuais e atletas de diversas áreas, bandas filarmónicas e ranchos folclóricos, andores e estandartes, gente rezando e gente falando alto, mas todos com um mesmo sentido, que é a alegria de viver, numa manifestação de comunhão e entusiasmo que, como diria Santo Agostinho, outro importante Doutor da Igreja, é estar em estado de Graça, ter Deus dentro de si. Por vezes, há a ideia que estar com Deus é essencialmente frequentar a Igreja, as suas missas, a comunhão, mas fazer o bem, ser atencioso, partilhar, é igualmente ser Igreja, uma forma absoluta de ser- -se católico. Esta procissão de São Bernardo foi isso tudo, uma partilha entre sagrado e profano, entre religiosidade e vida civil, com o pleno respeito de todos por todos.
Há quem ache que deveriam ter ido os andores mais perto ou mais longe, há quem critique isto ou aquilo na organização, há quem diga que havia quem fosse pouco disciplinado fazendo demasiado barulho, mas há sempre quem, por tudo e por nada, diga isto e aquilo. Colocar tantas centenas de pessoas, representando dezenas de organizações, é uma tarefa hercúlea, sobretudo sendo a primeira vez. Certo é que foi muito bonito ver tanta gente no Rossio unida por São Bernardo. Certo é que foi muito bonito ver a alegria em novos e velhos, em crentes e descrentes. Certo é que foi muito bonito ver pela primeira vez os andores dos padroeiros das paróquias do concelho juntos dentro do mosteiro. Certo é que foi muito bonito ver a Igreja aceitar a participação do profano junto dos seus santos do mesmo modo que foi muito bonito ver a sociedade civil de todo o concelho a tomar lugar dentro do mosteiro participando na missa, católicos ou não.
A autarquia idealizou, a Igreja acolheu e fez-se história. Uma procissão deste modo em que o sagrado dá as mãos ao profano por um bem comum que é a glória de Deus, através da evocação do seu Santo Bernardo foi uma atitude visionária, é uma atitude política partilhada pelos decisores laicos e eclesiais e quem lá esteve participou num acontecimento histórico – foi a primeira. No próximo ano, se Deus quiser, haverá mais e melhor.

Jorge Pereira de Sampaio
Historiador

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