Escavaram em 1951 na encosta norte para nos fazerem, a nós, hoje os soterrados tanques de lavar roupa da Fonte da Senhora e à ‘grande piscina’, cuja meia-lua desbastada no espesso muro de cimento alimentava continuamente um ribeiro que corria terra abaixo pelo terreiro vermelho onde virados para a encosta sul nos alinhavamos em série. As mulheres chegavam cedo, tomavam conta de cada lavadouro, que tinha a separá-los uma divisão de apoio e se traziam crianças eram elas que nos enchiam com a água, que traziam num balde da bica do tanque grande. As mães davam-lhes um pedacinho de sabão e uma peça de roupa que iam esfregando contentes no muro do tanque. Os homens enchiam as tinas de água nos carros de bois e os rapazecos planeavam quando ir nadar no tanque. Pelo regato seguiam as águas sujas dos tanques, mas não eram poluídas de detergentes como agora são as águas das máquinas de lavar. Abundavam agriões em frescura de verde viçoso, quais notas musicais das cantorias femininas ecoando pelos montes. A água do tanque piscina vinha pelo cano dos tanques para onde escorria a água pura da bica virada nascente, onde começava o mais largo caminho que subia até à igreja matriz de Benedita. Era aí que se enchiam os cântaros de água que depois iam à cabeça para casa das pessoas. Uma moça da Venda da Rega quando chegou a casa, cai-lhe o cântaro da cabeça. Lágrimas que sobram, mas a água foi-se. Isto nunca mais se esquece! Tantos quilómetros andados tanto esforço perdido!
As crianças das escolas aqui escutam: ‘Lembrem-se de que nem sempre houve torneiras com água. Sem ela não se pode viver, e é urgente poupá-la.’ Recordam-lhes a lenda aparição da Senhora, vendo a Pedra Lendária. Este é sítio abençoado onde sobre giestas, juncos, fetos e urzes se estendia a roupa, ora a corar, ora a secar. E este local de nós tanques o que mostra? Restam as velhas placas de 1890 e de 1951. A nova de 1984, lembra a elevação a vila e a nossa destruição…!? Será que nada se pode fazer pela nossa memória?