Nós, pedras do Salão Paroquial da Benedita, anos 60, sentimo-nos ofendidas pela tardia lembrança de nós e do que fomos na vida cultural da Benedita. Soterradas à beira do milénio é difícil perceber a ausência de uma única memória nossa no local!
Toda a freguesia contribuiu com fundos para surgirmos. Liderou o Padre Tiago Delgado. Ocupámos o terreno, onde está o Centro Cultural, que era da Paróquia e daí foi mais fácil construir o Salão. Tinha palco, camarins, grande entrada com bilheteiras, tudo! Ao fundo da plateia, no 1.º andar, era o balcão com máquina para passar filmes e outras salas, p. ex. uma biblioteca da época, em que se fez alfabetização, ideia do Padre Serrazina. O Zito, jornalista bairrista, sempre atento e empenhado foi a Lisboa arrematar um leilão de cadeiras para uma plateia moderna. Lá se fizeram reuniões da Paróquia, Assembleias Gerais do Externato, teatros dos alunos, revistas do Parque Mayer, serões de fados, etc. Lá pernoitaram e tiveram as refeições feitas pela Sra. D. Zilda Pereira os jovens da Casa Pia, que no verão de 1973 vieram construir o parque para crianças na Praça Damasceno Campos. No salão paroquial foram os comícios após o 25 de abril, espaços de democracia e partilha de novas ideias. Era o local apropriado e todos sabiam onde ficava. Grande e bem situado, à esquerda da igreja na continuação do ECB. Foi comprado à Paróquia e demolido para dar lugar ao novo Centro Cultural, obra do Externato. Desta vez, o dinheiro veio da Europa, embora por ‘tradição’ alguns ainda digam: ‘foi tudo com dinheiros do ECB’ e foi inaugurado em 2004.
Lembramos peças de encenadores ‘de fora’, que tiveram sala cheia: Maria do Mar de Bernardo Santareno com alunos do ECB em 1974, encenada por Eduardo Pinto, brasileiro. L. Hollburg, ator alemão da Academia de Rostock, trouxe Brecht em 91 e Heiner Muller com ‘Dragão 96’ em colaboração com a cenógrafa Sabine Marciniak para a Associação Juvenil Barafunda. Memórias de outros tempos que não podemos eliminar!