Armazém das Artes, o exultante retorno

José Alberto Vasco
Escritor

Após a apresentação da deslumbrante e exemplar exposição Arte Negra, que evidenciou, de um modo nunca anteriormente consagrado em Alcobaça, a singularidade e o esplendor da arte africana, a decorrente exposição Artigo 4º, exibida no Armazém das Artes, potencia novamente a programação de reabertura daquela relevante infraestrutura cultural alcobacense. Fundada pelo emérito escultor José Aurélio e inaugurada em março de 2007, desimpedimento possibilitado em harmonização com a edilidade local, após alguns anos de constrangido interregno da atividade expositiva regular daquela inigualável instituição museológica. Em Artigo 4º expõe-se pela primeira vez a totalidade da significativa coleção de arte contemporânea da Fundação Cultural Armazém das Artes, património artístico edificado em produções que incluem o desenho, a escultura, a colagem, a serigrafia e a pintura, acervo representativo da mais notável arte portuguesa da segunda metade do século XX. Além do próprio José Aurélio e do seu irmão António Aurélio, nele se evidenciam artistas tão ilustres como Ângelo de Sousa, Cruzeiro Seixas, Eduardo Nery, Helena Almeida ou Querubim Lapa, entre muitos outros. Esta notabilíssima exposição exterioriza, mais uma vez, as imensas virtualidades de Alcobaça no universo das artes de representação visual, patenteando que nela se poderia fazer muito mais numa área em que a também interrompida atividade expositiva da Galeria Conventual chegou a provar haver a capacidade de manter um mercado de arte. Essa potencialidade mantém-se firme e a justificar maior solicitude, numa época em que Alcobaça ainda recentemente viu surgir duas novas galerias de arte no seu centro histórico, asseverando que o setor privado continua a validar o seu lugar neste contexto. Continuam assim a ser enigmáticas as motivações que conduziram egrégias instituições públicas a outorgarem equívocas eventualidades como o extermínio da Rabiscuits, vicejante mostra de arte experimental que, durante alguns anos, estimulou a originalidade e a criatividade e jovens e conceituados artistas locais (e não só), bem como a letargia que, há algum tempo, contamina a qualificada galeria de arte da ala sul do Mosteiro de Alcobaça, que após muitos anos de assinalável agendamento expositivo se metamorfoseou ultimamente numa espécie de armazém devoluto.

José Alberto Vasco
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