As minhas recordações do 25 de Abril

Manuel Violante
Residente nos Candeeiros, Benedita

Fui descansar à sombra dos Carvalhos da Violante, à beira da estrada D. Maria Pia e lembrei-me daquele dia, o dia 25 de abril de 1974.
Nesse dia tinha de ir entregar uma remessa de calçado a Lisboa, mas quando cheguei a Rio Maior e ouvi na rádio, que havia uma revolução, fiquei na dúvida se ia ou não ia.
Voltei para trás, para a CABEL, a fábrica de calçado, onde trabalhava.
O patrão disse-me: «ainda bem que voltaste, aguarda um bocado, que eu vou mudar de roupa e vamos para Lisboa, ouvi qualquer coisa na rádio». Fomos os dois para o armazém, situado na rua da Palma, mas não conseguimos descarregar a mercadoria, o calçado. Fomos Avenida da Liberdade abaixo, liberdade acima, Rua do Alecrim, Rua da Escola Politécnica, Rua do Carmo, Cais do Sodré. Havia pouco trânsito, estava tudo fechado e nem sequer almoçámos. No fim do dia voltámos para a Benedita e o patrão disse: «Ó Manel, parece-me que isto não vai dar em nada». Eu não me expressava muito, mas já tinha a minha ideia, tanto que votei mais tarde na Comissão Democrática Eleitoral (CDE), não na União Nacional, que era o partido do Salazar.
Nesse tempo não se falava de política! Não tínhamos posição política.
No dia seguinte, 26 de Abril, fomos novamente a Lisboa para descarregar o calçado. Havia pouco trânsito
estacionava-se com facilidade. Outra vez, Almirante Reis abaixo e acima, havia carros a buzinar e entrámos no cortejo. Andámos misturados com aquelas pessoas, recordo-me de pessoas com braçados de cravos…e cravos enfiados nos canos das espingardas. Havia ali uma incógnita muito grande. Depois a pé fomos parar à rua António Maria Cardoso, onde se situava o edifício da PIDE e onde se deu o assalto à sede.
Ouvimos tiros, assim que começaram, descemos a rua. A poucos metros do Largo do Camões, escondemo-nos no viaduto por baixo da rua do Alecrim, antes de chegar ao Cais do Sodré. Estávamos nesse local, quando foi o assalto à sede, a seguir corremos para um café, havia algum pânico, as pessoas atropelavam-se e um homem atravessado na porta perguntava: mas o que é isto? Assustadas, as pessoas tentavam esconder-se no café, uns por cima dos outros.
Andámos os dois também no segundo dia a percorrer Lisboa. Foram dois dias empolgantes.

Manuel Violante
Residente nos Candeeiros, Benedita

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