A Páscoa de Jesus surge na história da humanidade como sinal de amor e de esperança. É por isso salutar celebrá-la. Deixamo-nos tocar pela alegria da vitória da vida sobre a morte. Mas, após uma experiência intensa de Quaresma, poderemos sentir o Tempo Pascal como uma época vazia. Empenhámo-nos nos exercícios pessoais de jejum e penitência. Participámos em vias sacras comunitárias e em procissões do Senhor dos Passos. A cultura portuguesa é profundamente rica em tradições quaresmais. E o tempo da Páscoa? O que fazer desta época que vai desde o Domingo da Ressurreição ao Domingo de Pentecostes?
Nos meus primeiros três anos de padre, tive a graça de passar pela Paróquia de Alenquer, onde vigoram as chamadas festas do Espírito Santo. Conta-se que foram instituídas há séculos pela Rainha Santa Isabel. Após a Eucaristia solene, o povo sai em procissão. No final, é servido o “bodo”, uma refeição aberta a todos. Estas festas, que tiveram a sua génese em Alenquer, acabaram por passar para outras regiões do país. Hoje, são especialmente celebradas nos Açores. Uma outra tradição ainda presente em várias zonas de Portugal é a da Visita Pascal. O sacerdote, que traz consigo a cruz de Cristo vitorioso, é convidado a entrar nas casas das famílias como anunciador da Ressurreição. Neste ano, eu próprio pude experimentar este costume. Foi-me pedido pela equipa do Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel que fizesse a Visita no Domingo passado. Juntou-se um grupo de hóspedes. Escutámos a Palavra de Deus correspondente à Ressurreição. Demos a cruz a beijar a quem desejasse. Benzemos o espaço da receção e convivemos um pouco. Quem sabe se a Visita Pascal não poderá ser uma atividade a pôr em prática na nossa cidade em tempos próximos? Cada tempo litúrgico dispõe de uma necessária plasticidade. Assim cada cultura pode aplicar-lhe tradições que ajudem as pessoas a viver os grandes mistérios da nossa fé. Como cristãos podemos então partilhar a alegria de crer. Santa Páscoa para todos!