Por muito que a alguns de nós isso custe, os dedos de uma mão chegam e sobram para contar os museus de Alcobaça em pleno funcionamento. Essa exiguidade é uma questão antiga, quase anedótica, e ainda me recordo de em julho de 1999 se ter realizado em Alcobaça um supostamente bem intencionado seminário, intitulado Alcobaça: Que Museus?, cujo final se aludia esperançosamente a possibilidade de se poderem efetivar mais de 20 museus neste concelho. A verdade é que fazendo bem as contas, os anos continuam a passar-se e a condenável situação mantém-se, parecendo querer eternizar-se, também porque raras vezes a massa crítica local tem interferido no sentido de potenciar uma necessária reflexão política e institucional sobre o problema.
Foi com agrado que em novembro de 2022 tive conhecimento da edição e publicação do livro Os Museus (Im)Possíveis/Património Museológico Alcobacense Entre o Real, o Irreal e o Surreal, cujo subtítulo é logo à partida um pertinente e fundamentado juízo sobre esta questão. Os seus autores são o antropólogo e museólogo Alberto Guerreiro e o investigador Rui Rasquilho, indiscutivelmente dois dos técnicos com mais e melhor conhecimento sobre este assunto. Trata-se de uma produção literária significativa e indispensável, que identifica e carateriza linearmente as situações e os problemas inerentes, ostentando a meritória virtude de também sugerir soluções viáveis, o que a torna de leitura obrigatória para quem ama Alcobaça e gostaria de ver confirmadas as suas reconhecidas potencialidades museológicas. Incómodo apenas que a revisão de texto tenha sido pouco cuidada, povoando este livro de gralhas e incorreções que, contudo, não reduzem o seu profundo interesse e a sua relevância. A edição foi da responsabilidade da AMA – Associação dos Amigos do Mosteiro de Alcobaça, com patrocínio do município local, sendo apenas confusa e difícil de entender a quase impossibilidade de o encontrar à venda, transformando-o num estranho objeto de culto apenas ao alcance de alguns eleitos.