E o burro sou eu?

Afonso Luís
Bancário aposentado

Ocorre-me sempre esta célebre pergunta do treinador de futebol Filipe Scolari, quando ouço opiniões a aligeirar, quando não a desmentir a gravidade do coronavírus. Se neste caso burro significa estúpido, então os estúpidos serão os cientistas? Serão os responsáveis das nações? Seremos nós? Concluo que só não são burros ou estúpidos os negativistas seguidores de Bolsonaro, que negam a gravidade do vírus e recusam ser vacinados. Nem percebo por que motivo um atleta da nossa seleção de futebol, o João Cancelo, teve de abandonar o grupo e afastar-se do Euro. Deve estar a gozar connosco. Se isto não passa de uma mera gripe sazonal, que essa até provoca mais vítimas… Há pessoas que eu tinha por inteligentes e que, afinal, negam tratar-se de uma pandemia grave. Recusam a vacina. O quê? O vírus já provocou milhões de vítimas por esse mundo fora? Patranhas. Mentiras dos mass media. E andamos nós, os estúpidos, a reboque destas aldrabices. Eles, os negativistas iluminados, é que sabem como é. Acontece que, se porventura eu fosse deputado da nação, proporia à Assembleia da República a promulgação de uma lei a obrigar quem se recusa ser vacinado a assinar um documento descartando o Serviço Nacional de Saúde de um possível internamento futuro. Que se arranjem se o vírus lhes bater à porta. Não têm é de usufruir de tratamentos que acabam por ser suportados por todos nós, os burros, os estúpidos.
A propósito, foi lançado recentemente em Portugal um livro intitulado “A Psicologia da Estupidez”. Organizado pelo psicólogo francês Jean-François Marmion, conta com a colaboração de algumas das pessoas mais inteligentes do mundo, como Daniel Kahneman, Edgar Morin, António Damásio e muitos outros. O tema é abordado em vários capítulos, de forma interessantíssima, e são colocadas muitas questões. Como esta: Porque é que as pessoas inteligentes por vezes acreditam nos maiores absurdos? Não consta, no livro, um capítulo sobre a estupidez e a pandemia. É pena, pois não fico a saber se o estúpido (ou burro) é aquele que acha que o coronavírus é uma falácia, ou se o estúpido (ou burro) sou eu, que entendo tratar-se de uma pandemia séria.

Afonso Luís
Bancário aposentado

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