Testemunho. Uma jovem fala como vive a atual quarentena

Acho giro como o mundo lá fora anda tão silencioso, as pessoas tão bem-educadas e reservadas. Mas basta um suspiro, um sorriso, um olhar para mostrar o desespero, a preocupação, o medo.
Honestamente, não há melhor palavra que medo, para descrever este tempo.
Por mais que digamos que este tempo nos vai ensinar tantas coisas e que vamos sair disto mais fortes e mais unidos, nada muda que agora, eu não possa dar um abraço à minha mãe, sem ter de pensar nas “consequências letais”. As consequências letais de um abraço… Onde isto já chegou: a morte passa-nos na cabeça, só por causa de uma troca de afetos!
Engraçado como eu sonhava com algo assim parecido: não com o vírus, mas de poder ficar o dia inteiro em casa a ver Netflix e sem ter de aturar os professores, os meus colegas chatos, os familiares bisbilhoteiros e até os meus amigos, pois às vezes já não posso com eles. E agora tudo o que quero é que alguém chato me irrite o dia inteiro e que eu possa sair, não só de casa, mas desta bolha social. Pois liberdade é algo que a minha geração sempre teve como garantido. Assim, sempre conseguimos perceber um pouco do que foi o 25 de Abril, feriado que nunca mais vai ser o mesmo para mim. Ter de aguentar quarenta anos… sim, podia sair-se à rua e abraçar e beijar as outras pessoas, mas não se podia dizer o que se pensava. Acho que se essa liberdade fosse também tirada de nós, aí sim, ficávamos todos malucos.
Um dia destes, estava na minha sala de estar e, em vez de ouvir gritos dos alunos da Frei Estêvão, que costumo ouvir quando eles estão no intervalo, ouvi o som de passarinhos. Mas era diferente: era limpo, simples, honesto, livre, como se antes tudo fosse mais pesado, com mais stresse. Até os passarinhos sentiam isso! E por mais que adore ouvir os passarinhos, senti falta dos gritos e das gargalhadas daqueles alunos histéricos.
Só há uma coisa que me dá energia para me levantar da cama e começar o meu dia: a esperança. Seja ela de que forma seja. A esperança é a nossa única esperança.
Espero que, no fim de tudo isto, o mundo consiga ser como o passarinho que estava a cantar ao pé da minha sala: seja mais honesto, menos stressado e, mais importante, que ganhe amor e felicidade.

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