“Verdadeiro poder do Papa é o serviço humilde”

Primeiro americano, primeiro jesuíta e primeiro Francisco, vindo “do fim do mundo”, o novo Papa, eleito a 13 de março, surpreendeu, às primeiras palavras, ao afirmar que o “trabalho do conclave é dar um bispo a Roma” e ao pedir a oração do povo, baixando a cabeça para receber ele a bênção de Deus.
Na semana anterior à eleição, o jornal italiano Il Fatto Quotidiano publicou um artigo com o título “A hora impossível do Papa Francisco I”. Mas afinal foi mesmo esse o nome escolhido por Jorge Mario Bergoglio, 76 anos, argentino. Unânime entre os que o conhecem e dão o seu testemunho é a sua extrema proximidade para com todos, humildade e o pedido instantemente repetido: “Rezem por mim”.
Esta terça-feira, 19 de março, na missa inaugural, a Praça de São Pedro foi pequena para acolher a todos os que quiseram marcar presença. “Ainda não eram 9h00 e já Francisco percorria a Praça, não no habitual papamóvel mas num jipe branco descapotável. Ainda não eram 9h00 e já o Papa descera do jipe para beijar e acariciar um deficiente”, noticiou o jornal Público.
O Papa Francisco agradeceu “ao Senhor” ter iniciado o seu ministério “na solenidade de São José, esposo da Virgem Maria e patrono da Igreja universal: uma coincidência muito rica de significado”. Tal como José, pediu o Papa, “guardemos Cristo na nossa vida, para guardarmos os outros, para custodiarmos a criação”, tendo atenção “a cada pessoa, com amor, especialmente às crianças, aos velhos, aos que são mais frágeis e tantas vezes estão na periferia do nosso coração.” Defendendo que o poder do Papa é o do “serviço humilde, exortou também: “não devemos ter medo da bondade nem da ternura.”
No último sábado, dia 16, no encontro com a comunicação social, o Papa tinha explicado a escolha do nome. Depois do cardeal brasileiro Cláudio Hummes, lhe ter dito no conclave “Não te esqueças dos pobres”, o Papa escolheu ‘Francisco’; “esse nome entrou no meu coração”, “é o nome da paz”, acrescentando: “Como eu gostaria de uma Igreja pobre, para os pobres”.

Um homem de Deus
Quando foi eleito cardeal e alguns argentinos queriam viajar para Roma para celebrar, Bergoglio convenceu-os a dar aos pobres o dinheiro que gastariam na viagem. O episódio foi narrado pelo jornal inglês The Guardian. Segundo o La Stampa, Bergoglio era alheio a toda a forma de “carreirismo”, sendo visto no Vaticano apenas quando necessário. Em Buenos Aires, não tinha nem motorista nem carro ao seu serviço; em Roma, deslocava-se também em transportes públicos e viajava de avião em classe eonómica. A jornalista argentina que, com base em várias entrevistas, escreveu sobre ele um livro, destacou a sua extrema proximidade, humildade e pontualidade, e a resposta que dava quando lhe chamava ‘cardeal’: “Não, não, padre Bergoglio!”. Defensor de um cristianismo de misericórdia e de alegria, o «padre Bergoglio» é agora Papa da Igreja universal, reavivando em cada gesto o rosto do Pai.

 

Reações

Joaquim Gonçalves, pároco de Alfeizerão: “Longe estava eu de imaginar que os cardeais elegessem esse homem que veio do fim do mundo. Deus surpreende-nos e gosta de nos baralhar! O nome que escolheu, Francisco, desperta em nós tanta confiança. Na simplicidade com que se apresenta, na vontade que tem –ao querer uma igreja pobre e para os pobres – é um enviado de Deus, um mensageiro da paz.”

François Diouf, pároco do Vimeiro: “Partilho a alegria de todos os meus irmãos e irmãs católicos. Tinha acabado de celebrar a missa quando alguém veio me dizer: «Temos o novo Papa! É o Papa…Francisco!» Francisco? Pensei: “deve estar a brincar”. Mas não. Possamos todos reencontrar a alegria da nossa Fé Católica com a eleição deste novo Papa.“

Irmã Lourdes Lima: “Como muita gente, fiquei presa à TV. Antes de mais, alegra-me o facto da Igreja ter novamente um líder e fosse ele quem fosse seria o Papa da Igreja que eu sirvo. Agradou-me o facto de ser um Papa da América do Sul, é um sinal muito positivo, indicador de mudança.”

Sofia Norberto, animadora do grupo de jovens do Bárrio: “O nosso Papa Francisco tem-se revelado um homem muito simples. Já o manifestou em várias atitudes simples como o desejar os bons dias a todos e o querer que a igreja rezasse com ele e por ele.”

 

BI. Papa Francisco

Nome: Jorge Mario Bergoglio
Naturalidade: Buenos Aires,
Argentina
Data de nascimento:
17 de dezembro de 1936
Formação:
– Engenharia Química
– Filosofia
– Teologia, tendo feito doutoramento na Alemanha

Percurso Sacerdotal:
– Seminário Villa Devoto;
– noviciado na Companhia de Jesus;
– ordenado sacerdote em 1969;
– mestre de noviços em San Miguel
– profissão perpétua de jesuíta, 1973;
– provincial dos Jesuítas da Argentina;
– reitor do Colégio Máximo e das Universidades de Filosofia e Teologia
– pároco da Paróquia de São José;
– ordenação episcopal, 1992;
– arcebispo de Buenos Aires, 1998;
– elevado a cardeal pelo Papa João Paulo II, 2001.
Publicações:
– Meditacões para religiosos, 1982;
– Reflexões sobre a vida apostólica, 1986;
– Reflexões de esperança, 1992.

Anel e brasão:
O Papa Francisco rompeu com a tradição.
– o seu anel será de prata e não de ouro e não se baseia num modelo desenhado de novo mas no do papa Paulo VI;
– quanto ao brasão, é o mesmo que usou enquanto arcebispo de Buenos Aires. O brasão faz referência à Companhia de Jesus, ordem religiosa a que o papa pertence, e contém a frase em latim, “miserando atque eligendo”, que quer dizer “olhou-o com misericórdia e escolheu-o”. A frase é de São Beda, o Venerável, um monge inglês do século VII, e descreve como Jesus escolheu Mateus, um cobrador de impostos, para seu discípulo e lhe disse “Segue-me”, vendo-o “mais com o olhar interior do seu amor do que com os seus olhos”.

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